sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Desafio de Natal

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Se esse Papai Noel, como a gente vê e as crianças adoram, que se veste de vermelho e branco, gorducho e alegre, com gorro de pompom na ponta, o rosto redondo emoldurado por alvas barbas, macias como algodão, foi uma invenção da Coca-Cola para firmar sua cor e sua marca lá nos anos 1940 do século 20, mas que todo mundo acredita ser a imagem e semelhança do espírito de Natal, fico aqui a me questionar: por que não inventar agora uma nova maneira de enfeitar esta data Cristã?

Por que não dispensar velhos hábitos e mudar, simplificar? Que tal abandonar o tumulto das compras, que sempre deixamos para fazer nas últimas horas? E parar de enfrentar aquelas longas e lentas filas nos shoppings para concorrer à prêmios espetaculares que a gente jura que vai ganhar?

Vou confessar, tenho necessidade de avisar e, assim, no futuro não cair em discussão com algum chato, mais chato que eu: não gosto desta estética natalina, importada, pasteurizada, tudo tão igual, tão banal e tão brega! Se ainda fosse Tecno brega, com sua vasta dose de bom humor e brasilidade caricata, não ficaria assim tão aflita com esta época que se traduz em luzes made in China, pinheirinhos de plástico e uma intensidade absurda de vermelho, verde e branco e que, graças aos tons não menos “porcinas”, do dourado e do prateado deixam perceber que não estamos numa grande cantin italiana, no bairro do Bexiga, em São Paulo. Ou, que isso não é coisa de algum torcedor do Avaí, que decorou a cidade com as cores do tricolor para lembrar dos 4x0 sobre o Furacão.

Aliás, é justo esta sensação esquizofrênica entre o que vejo e o que sinto, que realmente incomoda. Estas imagens natalinas que remetem a neve, flocos, frio, agasalhos, longas botas pretas, gorros e cachecóis, totalmente dissociadas da nossa realidade tropical do verão, quando a temperatura está lá em cima, é que grita a incoerência de não ser a festa certa na hora certa. Chega a dar calor, ver papais coca-cola totalmente vestidos fazendo de conta que é inverno. Socorro!

São quase dois meses de contado visual, quando não sonoro, com incoerências e fantasias de fé. Corais de mpusicas das quais não gostamos, fazem a trilha sonora das lojas que, entre si, também não fazem questão de mandar alternância, causando só poluição para os ouvidos. E a Simone, a cantarolar Então é Natal, do brilhante John Lennon, na sua versão tupiniquim, há décadas? Quem aguenta? Eu não!

Entre tantos questionamentos inspirados pelo clima de Natal, não posso deixar de fora o motivo da celebração desta data fictícia, escolhida a dedo, para competir com as festas pagãs, com seus deuses naturais – que tinham um público bem maior e cativo, diga-se de passagem – há centenas de anos, na antiga Europa. Então, se o dia 25 de dezembro é uma criação arbitrária, por que não mandar guirlandas, flocos de neve, rabanadas, tâmaras, nozes e outras exóticas frutas secas, para o inverno, de onde não deveriam ter saído?

Não existe desculpa no mundo que me faça achar graça em Natal falso, fake! No Brasil, com tanto sol, múltiplas cores e tonalidades, uma infinidade de sabores e sons, acho uma pobreza essa estética de Natal importada e que só deve ser bonita mesmo in natura, na Europa e nos países que estão realmente em pleno inverno, no mês de dezembro.

Aliás, se quiserem minha humilde opinião, prefiro mil vezes três dias de Maratona Cultural, com arte e talentos locais, do que erguer um pinheira mega – que nem nativo é! – na Beiramar, para turista ver.

Fernanda Lago (Diário Catarinense)

Magistério São Vicente

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