sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Texto de memórias

Chamo-me Clotilda Elisabeta Brixner, nasci no dia 08/07/1941, no Rio Grande do Sul, e sou gaúcha com muito orgulho. Venho de uma família numerosa, somos 11 irmãos, quatro homens e sete mulheres. Aos 7 anos comecei a freqüentar a escola, e minha primeira professora, era a minha madrinha. Não tínhamos cadernos para escrever, como nos dias de hoje, antigamente se escrevia em lousas e muitas vezes ao chegarmos na escola, o tema já havia apagado.
Todos andavam de pé no chão, e no inverno, quando fazia muito frio e tinha geada usávamos tamancos, sem meias muito ruins para caminhar.
Ainda nos meus sete anos, fiz minha Primeira Eucaristia. O padre quando vinha na comunidade se hospedava na nossa casa. Me lembro bem quando era dia do padre chegar, toda a família o esperava, e meu pai sempre ia ao seu encontro.
Os anos foram se passando, e no ano de 1951, meus pais decidiram morar em Santa Catarina, na terra de Porto Novo, já que lá era uma colonização católica.
Fomos morar na comunidade de Linha Presidente Becker. Naqueles tempos era uma comunidade pequena, quase exclusivamente habitada por alemães, que vinham diretamente da Alemanha. Foi uma grande mudança na nossa vida, por ali eram outros costumes, e a língua alemã que os moradores da comunidade falavam, era muito difícil de entender.
Nessa comunidade meu pai era o professor.
No ano de 1955 estudei um ano no Colégio São Vicente, morávamos com as Irmãs, que também eram nossas professoras. Neste tempo ajudei a descarregar alguns caminhões que vinham carregados de tijolos para a construção do Colégio São Vicente.
Nas salas de aula havia sempre silêncio, senão os professores davam castigos, havia também muita disciplina e os alunos respeitavam os professores.
O tempo foi passando, tornei-me adolescente, jovem e uma pessoa adulta. O trabalho na lavoura era muito pesado, a gente se judiava muito.
O namoro era sempre vigiado, raramente os casais de namorados podiam ficar sozinhos. Só podia pegar um na mão do outro, dar um beijo e um abraço, quando alguém via, nem pensar!
Noventa e nove por cento das moças casavam virgens. Antes do casamento, ter relações sexuais era pecado. Os casamentos eram realizados durante o dia todo, pela manhã era a missa, depois na casa da noiva acontecia o café da manhã e o almoço, tudo era feito no fogão a lenha, comia-se sopa, arroz, batatinha, massa e carne. A noite havia reunião dançante.
A castidade era vista como um bem guardado a sete chaves, se por acaso alguém não guardou a castidade até o casamento, ficava mal falada, e se ainda algum dia a pessoa quiser casar, não podia ser na Igreja, mas sim na sacristia. Nem o vestido da noiva, ela podia usar, pois o branco era visto como símbolo da virgindade.
O povo levava a religião muito a sério, a participação era intensa. Nas missas dominicais ninguém ficava em casa, mesmo ninguém tendo carro, todos iam à pé muitos quilômetros.
No meu tempo de jovem fui a Santa Maria trabalhar em um colégio onde tive a oportunidade de aprender mais a fundo sobre culinária, pois nesses tempos as moças que queria casar deviam saber costurar, fazer todo o serviço de casa, cozinhar e fazer pães e bolos muito bem, pois sempre se dizia que o amor do homem se conquista pelo estômago.
Não havia energia, no interior a iluminação era feita com pequenas lamparinas à querosene, e mais antigamente era feita com lamparinas a banha, saía muita fumaça de modo que as narinas ficavam pretas.
Banho a gente tomava uma vez por semana em uma gamela. Rádio existia muito pouco, aliás o primeiro rádio que veio para á comunidade de Linha Becker, foi meu pai que trouxe quando viemos de mudança. Era uma caixa tão grande, como as televisões de hoje. Este rádio foi meu irmão mais velho que montou, pois ele fez rádio-técnico por correspondência.
O tempo foi passando e veio o casamento, casei-me no dia trinta de janeiro de 1964 com Alberto Kollmann, aí nasceram os filhos. Neste tempo não havia muito lazer, participávamos do grupo de danças, aliás o primeiro e único do município de Itapiranga, nós ensaiávamos domingos à tarde em um potreiro ao som de um violão e nós cantávamos as músicas das danças. Às vezes dava tempo para assistir a um jogo de futebol, os bailes eram três ou quatro por ano, começavam às oito horas da noite e terminavam no máximo à uma hora da madrugada, sempre aos domingos à noite.
Com o casamento e nascimento dos meus filhos a minha vida foi mudando. As preocupações eram outras, trabalhávamos na roça. Não sobrava muito tempo para passar com os filhos. A medida que foram crescendo começaram a estudar, se formar e saindo de casa e depois formando suas famílias.
Temos seis filhos, três mulheres e três homens.
Depois que perdi meu marido, que faleceu com 57 anos, no dia 16\10\1995, um dia antes do aniversário de meu filho mais novo, que completaria quinze anos no dia dezessete. Cuidei do meu sogro Adolf Kollmann de na época 95 anos, por mais quatro anos, aí ele faleceu com 99 anos, minha sogra já havia falecido antes com 87 anos.
Cuidei de meu sogro com o apoio de meu filho mais novo.
Foi aí que minha vida mudou novamente, com o consentimento dos meus filhos resolvemos vender nossa terra no interior e adquirir um terreno na cidade.
A convite dos meus dois filhos que moravam na Alemanha, viajei para lá, levando comigo o meu filho mais novo, conheci um pouco dessa terra tão falada por todos. Fiquei lá por três meses, fiz muitas amizades por lá, e meu filho mais novo resolveu ficar por lá, e hoje ainda mora na Alemanha. Voltei e fiquei morando aqui em Itapiranga.
Uma das minhas filhas foi morar em Brasília, por isso já vou todos os anos visitá-la. Depois de três anos voltei novamente para a Alemanha, estas viagens de avião foram um grande aprendizado para mim, tanto para a Alemanha como para Brasília.
Há dois anos atrás um dos meus filhos voltou da Alemanha para o Brasil e hoje mora em Itapiranga e se sente feliz por estar em casa.
No ano passado uma das minhas filhas e eu construímos uma casa, aqui mesmo, em Itapiranga.
Esta é uma história real, vivida por Clotilda Elisabeta Kollmann, e escrita por Kamile Schneider (Turma 71).

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