Encontrei um amigo (o qual vou chamar de Daniel) que anda meio desanimado. Ele me confidenciou que, após ter concluído o curso superior, se sente injustiçado por não ter recebido uma promoção na empresa onde trabalhava por mais de dez anos. Ele esperava ser promovido, deixar o trabalho braçal e mecânico para se tornar, talvez, um dos executivos da empresa. Mas, mesmo desanimado, ele continua trabalhando no mesmo departamento.
Daniel me fez lembrar de um estudo realizado por psicólogos e antropólogos, o qual denominaram de “O mito do letramento”. Até os idos da década de 1970, acreditava-se que aquela pessoa que aprendesse a ler e a escrever deixaria de ser considerada leiga. Para eles, o letrado passaria da divisa do ser primitivo para outra classe de pessoas: a dos letrados. É neste momento que entra em cena o pesquisador Harvey Graff e sua hipótese. Ele afirma que tudo não passa de um mito, que o que realmente conta é o valor no qual a sociedade onde o indivíduo vive. É ele que irá determinar sua posição na sociedade. É mais ou menos assim: de que adianta o conhecimento de um professor de física em uma aldeia indígena no meio da floresta amazônica? Talvez para ele seja a oportunidade de analisar o ângulo e a força executada pelo índio no lançamento de sua lança em relação a distância. Mas, para a tribo, aquele conhecimento nada vai influenciar. Não fará diferença.
O que Daniel não percebeu é que hoje o mercado está saturado de profissionais. Todo ano, são milhares de bacharéis em direito, contadores e administradores, por exemplo, que, ao se graduarem, acreditam que seus problemas estarão solucionados e que o “emprego” dos sonhos chegará pelo fato de já possuírem um canudo, como num passe de mágica. Não vamos nos esquecer que o papel aceita tudo. Mas a nossa sociedade não está interessada, pura e simplesmente, no que as letras, dispostas em linhas e parágrafos em um diploma, atestam. Conheço muito graduado que, caso recebesse a incumbência de gerir uma empresa, não conseguiria manter os negócios em funcionamento. Por outro lado, também há vários administradores, sem formação acadêmica, que conseguem levar suas empresas com maestria.
Claro que não estou menosprezando o estudo, mesmo porque sou professor. Mas, além do saber acadêmico, existem outros fatores que devem ser considerados, como luta, suor, sorte, trabalho em equipe, trabalhos sociais, até mesmo arriscar-se em outros mares. O Brasil está carente de profissionais nos pequenos centros, mas, às vezes, a zona de conforto passa a ser um empecilho para o desenvolvimento do indivíduo.
(Alfredo Leonardo Penz - Diário Catarinense)
Magistério São Vicente
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