terça-feira, 5 de outubro de 2010

Como era a vida de quem nascia nos anos 40


Tudo começou quando meu pai veio da Alemanha para ser professor na comunidade de Linha Presidente Becker no ano de 1938, mas, com o início da Segunda Guerra Mundial nos anos 40 ele foi proibido de dar aulas, pois só falava alemão.
Nasci em 1940, no dia 8 do mês de Julho na Comunidade de Linha Presidente Becker onde moro até hoje.
Uma passagem muito marcante em minha vida foi quando pude ser Catequista da Crisma, depois Presidente do Conselho da Comunidade e o Coordenador da Catequese. O único objeto que tenho para me lembrar disso são fotos.
Os meus costumes adquiri com o tempo. As paisagens eram cheias de árvores muito verdes, as roupas eram simples por que na época não tínhamos muitas condições, eu tinha sete irmãos e era o mais velho e precisava ajudar na lavoura e na casa. Gostava muito na comunidade das festas da Oktoberfert e a vida comunitária.
Podíamos namorar somente aos domingos e encontros rápidos e sempre com a presença de uma tia junto. Os casamentos eram bem simples não como os dias de hoje, após a missa era servido vinho aos adultos e as crianças ganhavam refrigerantes e a tarde era feito um café com cucas, bolachas e bolos. Casei-me com Noêmia Silvina Körbes no dia 10 de julho de 1968, ficamos casados por 29 anos até o seu falecimento, e no ano seguinte me casei com Laudelina Orth no dia 17 de Julho e vivo com ela até hoje.
Eu trabalhava na lavoura junto aos bois que puxavam um arado, cortava-se o inço, gramas com a foice ou eram queimados, cortávamos as árvores que eram usadas na construção de casas. Os utensílios domésticos eram feitos de ferro, a maioria das vezes pesado, e a única máquina que tínhamos era a Saraqua que servia para plantar milho, soja, arroz, feijão de tudo um pouco.
Tínhamos discos, mas só escutávamos nas festas. Encontrávamos-nos com os amigos aos domingos, brincávamos de pingue-pongue, joguavamos futebol e vôlei com bexiga de porco cheia de ar. Tomávamos banho uma ou duas vezes por semana, primeiro era no rio, depois de algum tempo era nas gamelas e após alguns anos nos latões (uma balde pendurado em algum local da casa e tinha alguns furinhos de onde saia à água).
Todos participavam dos cultos uma ou duas vezes ao mês um padre ia rezar uma missa na comunidade. Antigamente não havia comunhão, o padre ou o ministro liam o Evangelho e refletiam um pouco sobre ele. Quando éramos maiores descobríamos que Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa não existiam, os meus pais faziam escondidos as bolachas, chocolates e os presentes, os Kerbs eram feitos entre as famílias, tínhamos poucas festas na comunidade e se aconteciam nos íamos, mas, como éramos muito pobres não tínhamos condições de comprar o churrasco então, minha mãe fazia cucas e levávamos refrigerantes para termos o que comer na festa.
Havia poucos bailes dois ou três por ano, a entrada somente era cobrada para os homens, as mulheres não pagavam, os homens eram obrigados a irem de paletó e sapato, enquanto a música não começava os homens ficavam de um lado e as mulheres do outro, quando começava a música os homens saiam correndo para dançar com a mulher que estavam de olho e ela era obrigada a dançar pelo menos duas peças de música com eles, já que não pagavam a entrada.
As aulas eram boas, mas, fazíamos muita bagunça, dividíamos a merenda e brincávamos muito, mas, havia poucos professores com um ensino qualificado. Dialogávamos mais o alemão, mas, na escola durante as aulas aprendíamos e falávamos o português, mas, já nos recreios voltávamos a falar o alemão.
Uma das maiores dificuldades que encontrei foi que meus pais como vieram da Alemanha não conheciam a agricultura e desde pequeno tive que ajudar e como me interessei, comecei a ajudar a família o que não foi fácil sustentar nove pessoas, eu, meus irmãos, irmãs, meu pai que me ajudava, mas pouco e minha mãe.
O que me deixou mais saudades foi que não pude ter a oportunidade de ter um bom estudo por conta do trabalho na lavoura e de sustentar a família.
Esta é uma história real que aconteceu com Miguel Lengert e foi escrita por Gabriele Lengert -  aluna da turma 71 da EEB São Vicente sob a orientação da professora Cecília Werner Kummer para resgatar as memórias dos nossos avós.

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